AZIA
Como onda que esconde
O que não quero mostrar
Como nuvem que responde
Ao que não sei perguntar.
O que não quero mostrar
Como nuvem que responde
Ao que não sei perguntar.
Como onda que se estronda
Como tu vindo do mar
Como uma nuvem redonda
Que é um bocejo de ar.
Como tu vindo do mar
Como uma nuvem redonda
Que é um bocejo de ar.
Como rima que não rima
Como se deve rimar
Também a matéria-prima
Às vezes é tão vulgar.
Como se deve rimar
Também a matéria-prima
Às vezes é tão vulgar.
Quem comigo permanece
Muda às vezes de lugar
Mas depois se m’aparece
Eu continuo a chamar.
Muda às vezes de lugar
Mas depois se m’aparece
Eu continuo a chamar.
Para quê forçar poema
Que recusa começar
Dar-lhe forma, não é forma
Dele um dia resultar.
Que recusa começar
Dar-lhe forma, não é forma
Dele um dia resultar.
Como é precisa a coragem
D’alguém deixar abortar
Ponto final na viagem
Onde eu m’iria afogar.
D’alguém deixar abortar
Ponto final na viagem
Onde eu m’iria afogar.
Vómito de poesia
Que me tomou de repente
Dele só resta esta azia
Que não mostro a toda gente.
Que me tomou de repente
Dele só resta esta azia
Que não mostro a toda gente.
Beja, 3/09/2016